sábado, 5 de outubro de 2013

Um outro dia, uma outra praça...



Vejo-me novamente na praça, no mundo, no existir; vejo-me novamente num de meus muitos dias, muitas horas, muitos olhares, muitos sons e sentidos. Ouço os loucos, os normais, mas também a natureza e a tecnologia a romperem as barreiras do silêncio mundano de meu existir. Tenho uma certeza: Estou no mundo!
            Um mundo que de tão real se afastou da realidade e criou a virtualidade, na qual vive imerso; Um mundo perdido mais no não-existente do que no existente; Um mundo que não sente calor, frio, fome ou sede, mas antes toques, atenção, imagens, barulhos e navegações. Vejo o mundo que tanto temi num dia na praça, sem o amor e sem eu mesmo. O mundo que me fez desligar-me da sede que tenho pelo amor, foi o mesmo que me fez conectar-me no mundo que não existe, do qual sou (somos) um (s) dependente (s). Vejo todos passarem no real e um ainda me conhece e constato que ainda não estou só. Contudo, ele passa e ainda comemora mais um dia sem os outros. Foi só um momento, volto à solidão.
Percebo-me obrigado, como na praça, a continuar a ver o prazer da dependência rumo à morte. A vaidade foi deixada de lado, frente ao consumismo que continua a alimentar a sede insaciável do humano, mantendo-o escravo da economia e cobaia do mercado. Sou obrigado a ouvir os sons de má qualidade e pobreza de sentido, os quais perturbam minha inteligência e mantenho-me silencioso, pois o politicamente correto da liberdade de expressão é mais poderoso que minha ânsia de liberdade humana; Sou ainda obrigado a ver o desejo de meus instintos e deixar-me controlar pelo império de minha consciência; Sou obrigado a perder meus olhares na busca de sentido dos tolos viajantes. Tolos sim! Para onde vão? Vão para qualquer lugar, mas ou estão voltando, ou sentem-se obrigados a voltar, ou ainda a ficar, mas nunca a chegar...
            Incomodam-me, as vezes, os viventes, pois violam minha privacidade sem eu lhes dar tal permissão. Incomoda-me sua privacidade, pois fadou-se ao mundo do virtual e reclama descrição no ambiente público que é infinito. Vou continuar a caminhar neste mundo, nesta história, nas praças e também no virtual... Vou voltar para casa da qual sou estrangeiro, portador de suas chaves, mas sem a certeza de poder adentrá-la.
Pobre de mim; pobre do amor que agora se tornou alguém sem importância; pobre dos fadados a virtualidade, pois estão condenados a prisão de selas infinitas e sem centro específico; pobre do caminho, pois já perdeu seus caminhantes e ficou sem poder levar estes ao seu lugar; pobre ainda do viajante, pois sou mais estrangeiro que sua clandestinidade; pobre de mim, pois sonhei em gerar e só vejo os outros a conceber e ter estrutura para isto. Queria aquela que me afastou-aproximou de Gabriela e ajudou-me a esquecer-lembrar do amor para cobrar-lhe os danos que causou neste ser que sou.



Jackson de Sousa Braga
3 de outubro de 2013. 12h30min.
Em: Conexão nupérrima


Obs: Respondendo: Falamos sozinhos e sentimo-nos idiotas, porém talvez esse seja o nosso principal modo de ser compreendido. 

Nenhum comentário: