terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Ofício do Professor: a Educação




“Mestre, onde morás?” (Jo 1, 38)


            Como dizia o bom e sábio Aristóteles: “O ser humano naturalmente tende ao saber” e, neste processo gnosiológico é inevitável seu encontro com o professor, pois é através do ofício deste que o ser humano pode apreender o novo e ao mesmo tempo descobrir sua necessidade de sempre aprender. Pretendo aqui apresentar um pouco de minha reflexão sobre a raiz das palavras Professor e Educação, mostrando a importância desse profissional em nossa existência concreta e em nosso processo do saber.
            A palavra educação deriva de dois verbos latinos: Educare e Educere, os quais apresentam sentidos importantes do processo educacional na história humana.
Na primeira palavra podemos perceber a meta essencial da educação: a relação com o outro. Educare significa amamentar, criar, alimentar. É durante o processo de criação e alimentação que aprendemos a necessidade de reconhecer o outro como fundamental para a existência e também a obrigação ética de respeito para com sua individualidade pessoal. Aqui se destaca a figura básica da família e da importância de suas orientações e exemplos de respeito, amor, valores éticos etc...
Já o termo Educere significa conduzir (à força) para fora. Este termo se origina da união das palavras ex e ducere, e nos lembra o dever de – após a saída, estruturação e formações essenciais da Educare – partirmos para o novo mundo do conhecer, o qual nos faz percebermo-nos como sabedores de nosso não-saber, ou nas palavras de Sócrates: “Tudo que sei é que nada sei.” É aqui que entra a importância do professor como aquele que oferece à humanidade sua valorosa ajuda e suporte para que o outro caminhe com bons passos pelo mundo do saber.
Antes, porém, de falar dessa importância, faz-se necessário observar a etimologia da palavra professor e seu sentido em nossa reflexão. A palavra professor vem também de um verbo latino, profitare que significa reconhecer publicamente. O termo profitare se dá na união dos termos pro (para fora, diante de todos) e fateri (reconhecer, confessar). Sendo assim, etimologicamente podemos perceber que na função de professor já existe um dever ético altruísta, pois seu ofício o obriga a entregar a todos - sem egoísmo - o seu saber, conhecendo-o junto aos outros novamente (re-conhecer é conhecer mais uma vez). O professor não é um sofista que se pretende sabedor e conhecedor de tudo, mas antes alguém que oferece seu conhecimento ao outro e que precisa aprender juntos com os outros o que já sabe.
Após essa reflexão sobre a etimologia da palavra professor, posso retomar a reflexão sobre a importância do professor na educação Educere. Conforme dito esta é um conduzir para fora e, tendo o professor o ofício de conhecer junto com o(s) outro(s) o que sabe, cabe-lhe a condução de seus epígonos para o mundo do saber. O professor aqui é um condutor e não o dono, pois sua função se dá em uma postura de ajuda e esperança: Ajuda, pois ele não se dá o direito de violar as etapas de cada indivíduo no processo de saber; Esperança, pois sua pretensão não é ser maior que o seu discípulo, mas assim como Aristóteles, pretende que seu aluno o supere e possa continuar esse processo de suprassunção dialético-sapiencial-educacional.
Não posso deixar de salientar que a Educação Educare é fundamental para o ofício do professor. No processo de condução e de oferta do saber não é possível forçar ninguém para que os receba, mas antes que sejam livres para desejarem e tenderem ao saber. Além disso, o professor não é figura materna/paterna para educare os alunos e esta última figura devem assumir este seu ofício sem depositá-lo em outros. Ao que percebemos, um dos principais problemas contemporâneos da educação é a carência que as crianças e adolescentes têm das figuras parentais e também da transmissão de valores éticos que estas podem oferecer-lhes.
Para não concluir, posso afirmar que hoje é mais um dia de lembrar a suma importância dos amantes do saber que não o amam com uma paixão egoísta, mas antes, que por um amor de razões que nem a própria razão é capaz de compreender (parafraseando Pascal), conhecem novamente e conduzem seus epígonos a saber, de uma forma totalmente altruísta, o doce sabor do conhecimento, que brilha, com luz cintilante e encantadora, no céu do saber.



JACKSON DE SOUSA BRAGA
Por um aluno/professor, 15 de outubro de 2013, 16h46min.
Dia do Professor

sábado, 5 de outubro de 2013

Um outro dia, uma outra praça...



Vejo-me novamente na praça, no mundo, no existir; vejo-me novamente num de meus muitos dias, muitas horas, muitos olhares, muitos sons e sentidos. Ouço os loucos, os normais, mas também a natureza e a tecnologia a romperem as barreiras do silêncio mundano de meu existir. Tenho uma certeza: Estou no mundo!
            Um mundo que de tão real se afastou da realidade e criou a virtualidade, na qual vive imerso; Um mundo perdido mais no não-existente do que no existente; Um mundo que não sente calor, frio, fome ou sede, mas antes toques, atenção, imagens, barulhos e navegações. Vejo o mundo que tanto temi num dia na praça, sem o amor e sem eu mesmo. O mundo que me fez desligar-me da sede que tenho pelo amor, foi o mesmo que me fez conectar-me no mundo que não existe, do qual sou (somos) um (s) dependente (s). Vejo todos passarem no real e um ainda me conhece e constato que ainda não estou só. Contudo, ele passa e ainda comemora mais um dia sem os outros. Foi só um momento, volto à solidão.
Percebo-me obrigado, como na praça, a continuar a ver o prazer da dependência rumo à morte. A vaidade foi deixada de lado, frente ao consumismo que continua a alimentar a sede insaciável do humano, mantendo-o escravo da economia e cobaia do mercado. Sou obrigado a ouvir os sons de má qualidade e pobreza de sentido, os quais perturbam minha inteligência e mantenho-me silencioso, pois o politicamente correto da liberdade de expressão é mais poderoso que minha ânsia de liberdade humana; Sou ainda obrigado a ver o desejo de meus instintos e deixar-me controlar pelo império de minha consciência; Sou obrigado a perder meus olhares na busca de sentido dos tolos viajantes. Tolos sim! Para onde vão? Vão para qualquer lugar, mas ou estão voltando, ou sentem-se obrigados a voltar, ou ainda a ficar, mas nunca a chegar...
            Incomodam-me, as vezes, os viventes, pois violam minha privacidade sem eu lhes dar tal permissão. Incomoda-me sua privacidade, pois fadou-se ao mundo do virtual e reclama descrição no ambiente público que é infinito. Vou continuar a caminhar neste mundo, nesta história, nas praças e também no virtual... Vou voltar para casa da qual sou estrangeiro, portador de suas chaves, mas sem a certeza de poder adentrá-la.
Pobre de mim; pobre do amor que agora se tornou alguém sem importância; pobre dos fadados a virtualidade, pois estão condenados a prisão de selas infinitas e sem centro específico; pobre do caminho, pois já perdeu seus caminhantes e ficou sem poder levar estes ao seu lugar; pobre ainda do viajante, pois sou mais estrangeiro que sua clandestinidade; pobre de mim, pois sonhei em gerar e só vejo os outros a conceber e ter estrutura para isto. Queria aquela que me afastou-aproximou de Gabriela e ajudou-me a esquecer-lembrar do amor para cobrar-lhe os danos que causou neste ser que sou.



Jackson de Sousa Braga
3 de outubro de 2013. 12h30min.
Em: Conexão nupérrima


Obs: Respondendo: Falamos sozinhos e sentimo-nos idiotas, porém talvez esse seja o nosso principal modo de ser compreendido.