sábado, 29 de novembro de 2014

“Foi sem querer querendo!”




“Eu prefiro morrer a perder a vida!”

            Ontem, Chespirito levou muito a sério o famoso bordão do Sr. Madruga “Chaves, por que não vai brincar em outro lugar!?” Como sempre, ele ficou ainda mais próximo do Sr. Madruga (Don Ramón) e hoje começamos a ver o sempre menino “da juventude que nunca morrerá” a brincar de eternidade com os anjos e com a Criança do presépio. Quem vai ousar se esquecer do dramaturgo que, sem perder o ar da tragédia, transformou seus personagens em filhos de uma sã comédia!? Roberto Gómez Bolaños ornou minha infância, adolescência e maturidade com o encanto de uma criança pobre de roupas remendadas e com as aulas de bravura dadas por um herói desengonçado. Por isso, quero agradecê-lo hoje com essas “pequenitas” palavras de gratidão.
            Como vou me esquecer de um homem que é sensível o bastante para ver numa criança órfã, pobre e até mesmo sem nome, o motivo de muitas alegrias, trapalhadas e lições? Devo agradecer ao Chaves, pelos inumeráveis sorrisos que já tirou em meu rosto e pela meta-retórica de suas palavras. Sou grato por ter sido condecorado com muitas brincadeiras atrapalhadas que, mesmo machucando alguém, deixavam a felicidade acontecer ou ainda por sempre ter me lembrado, ao assistir Chaves, que os melhores brinquedos são aqueles que criamos com nossa imaginação. Não vou me esquecer de usar “zass, zass e ai a gente vai” (palavras acompanhadas de movimentos constantes dos pés), cuja alegria contagiava minha confiança; o “isso, isso, isso!” que me ensinou a asseverar aquilo que meus desejos mais afirmavam em meu coração; e, por falar em desejo, quem melhor me ensinou a ver que nossas vontades e atos estão recheados de intenções desconhecidas para nosso consciente não foi Freud, mas antes o pequeno Chaves que sempre se justificava: “Foi sem querer querendo!”
            Sem querer querendo ainda, Chesperito me presenteou com a felicidade de um herói humano, exageradamente humano. Diferente de todos os heróis midiatizados cuja força, poderes e inteligência eram miraculosos e até mesmo apavorantes, o bom Chapolin me ensinou que ser herói é disponibilizar-se a ajudar, sempre se apresentando ao outro que clama: “Oh e agora quem poderá nos ajudar? – Eu!”. Suas vitórias se davam pela coragem, pois o herói de vermelho é medroso, assim como todos nós, e nos ensina que a coragem não é ser destemido, mas sobretudo ser capaz de viver com o medo. Chapolin é símbolo de minha gratidão, ao incrível Roberto Bolaños, por ter me ensinado que o heroísmo é seguir, em nossa humanidade, o bem: “Sigam-me os bons!”
            Ah, meu herói de vermelho que veste gorro e se torna criança inominável, OBRIGADO! Escolhi o título, pensando no que você queria nos dizer hoje: “Foi sem querer, querendo” que você se foi deste mundo, mas é querendo, por querer que você fica em minha, nossa e na memória de toda a humanidade como o homem que “prefere morrer a perder a vida” sustentada eternamente com os muitos – muitos mesmo – personagens da história do povo latino-americano.
“BOA NOITE, CHAVES!”


JACKSON DE SOUSA BRAGA
Cartão de São valentin, 29 de novembro de 2014

P.S.: Amo sanduíche de presunto também!


domingo, 26 de outubro de 2014

Observações sobre a eleição


É interessante analisar a vitória de Dilma e as reações inúmeras que existem tanto do eleitorado da vitoriosa, quanto do eleitorado do outro candidato. Quero fazer aqui somente algumas ponderações sobre o que percebo. Destaco que não se deve interpretá-las como uma análise exaustiva, mas antes como algumas provocações sobre o evento da vitória e suas manifestações.
Quero começar falando de nossa postura de petistas. A Vitória de Dilma é uma expressão da confiança dos brasileiros em seu governo, mas a larga vantagem anterior diminuiu. Podemos perceber nesta perspectiva que também precisamos avançar mais, melhorar nosso país e a qualidade de vida de todos. Saliento que percebo os avanços e por isso votei no PT, mas também sou correligionário das preocupações sobre aspectos particulares da economia e outros fatos. Acredito no PT e em Dilma, nossa presidenta, e estou aqui deixando meus votos de uma gestão melhor do que a anterior. Os avanços não podem acabar com relação ao respeito à pessoas humana e à qualidade de vida de TODOS os brasileiros.
Sobre algumas posturas tucanas, peço cuidado e respeito. Muitos se manifestaram em defesa das acusações de preconceito quanto às palavras de Fernando Henrique Cardoso. Contudo, são muitos também que acusam os eleitores do PT de “analfabetos, nordestinos e domesticados por bolsas”. Quantos às acusações, não foram somente estes os eleitores da candidata. Inclusive o reduto eleitoral de Aécio, Minas Gerais do qual faço parte, não o apoiou e foi fundamental para reeleição da candidata, mostrando claramente que o governo do candidato tucano não trouxe também tanta satisfação – conforme se vangloria com um suposto índice gigantesco de aprovação que se atribui. Além disso, a postura de usar os adjetivos “analfabetos, nordestinos e ‘pobres’” como pejorativos já é uma postura de preconceito quanto a essas pessoas que devem ser respeitadas em sua dignidade e experiência de vida como brasileiros – conforme nossa própria constituição e os códigos de direitos humanos lembram-nos.
Mas, minha maior alegria nessas eleições foi a participação do povo brasileiro. Temos que reconhecer que avançamos, a qualidade de vida dos brasileiros se desenvolveu. Não me lembro, mesmo ainda sendo um mero aprendiz de 25 anos, um tempo de tanta participação política dos brasileiros. Orgulho-me por ver meu povo discutindo qual o melhor a caminho a se tomar, a apresentar razões que consideram relevantes para escolher o que é melhor para nossa história. O Brasil inteiro venceu essas eleições, porque o seu povo abraçou seu compromisso de fazer da política uma arte de governar para o bem de todos e não mais uma cansativa reclamação de poucas soluções e muita “roubalheira” – sei que estas não deixaram de existir, contudo também vi o quanto a corrupção começa a perder força no Brasil, superando a visão de ser um problema político para se tornar um real problema antropológico de nosso povo e/ou de nosso “jeitinho”
Finalizando, quero dizer: OBRIGADO BRASIL! Fizemos nossas escolhas e caminhamos para um novo rumo de novas mudanças, as quais espero e confio que serão ainda melhores. Somos vitoriosos, todos, e tenho certeza que a presidenta Dilma tanto quanto todos os outros candidatos eleitos devem tentar fazer o melhor para nosso Brasil, juntos e com a presença de todos os brasileiros...
#VIVA_O_BRASIL
#VIVA_A_DEMOCRACIA
#MUDA_MAIS_DILMA13

JACKSON DE SOUSA BRAGA

Itabirito, 27 de outubro de 2014, 0h.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

"Filosofar é aprender a morrer" (Montaigne)



Cara Morte...
“Filosofar é a aprender a morrer” (Montaigne)
            Minhas saudações, sem espera de resposta antecipada, pois temo o dia em que tiver de recebê-las. Hoje gostaria de fazer um pedido, mesmo sabendo de que sua realização não venha a ser obtida. Sei que seus mistérios foram feitos para o silêncio da incompreensão linguística, contudo minhas palavras foram feitas para ser compreendidas – ou pelo menos percebidas – e, por isso, escrevo e digo-lhe este desejo, pois quero ser livre para cantar os segredos de meu coração e de minha razão.
            Meu desejo foi elaborado ao longo dos bilhões de anos da existência deste universo. Foi forjado em meio à expansão do cosmos, do qual faço parte. Talvez, a vontade seja a única que realmente tem coragem de encará-la. Mesmo sabendo do fracasso dos voluntários, ela sabe que deve manter-se corajosamente a cantar o seu maior sonho: a Vida. Sabendo disso, quero dizer-lhe este desejo: Que meus olhos sejam definitivamente apagados por você com a imagem das estrelas e não de seu rosto desconhecido.
            Sei que a curiosidade filosófica de minha existência deseja conhecer seu rosto, porém o encanto das estrelas já conseguiu fazer com que esta curiosidade seja inferior. Repito novamente que meu desejo pode não ser realizado, mas mesmo assim quero argumentar as razões que levam o meu desejo a ser autêntico e real para cumprir-se:
            O primeiro argumento é a paixão pelas estrelas que sonda o meu coração. Sei de que suas chegadas são marcadas constantemente pelos apelos dos apaixonados que pedem mais tempo para viver com seus amantes e mesmo assim sua realização é acionada e cumprida. Porém, peço que leve em consideração que não desejo descumprir sua missão e sim cumpri-las, só que contemplando e tendo a última e única visão de minhas amadas, para que eu possa viver a eternidade cosmológica compreendendo as razões que minha própria razão desconhece.
            O segundo argumento é a audição do silêncio estrelar. As estrelas sempre cantaram em meus ouvidos os segredos do cosmos – sei que não os compreendi todos, mas sempre amei ouvi-las. Sei também que meu desejo é apenas a utilização do sentido da visão e não da audição, todavia a visão final das estrelas me dará a graça de continuar a relembrar e compreender as infinitas e encantadoras melodias que os lindos astros cantaram em meus ouvidos.
            O terceiro e último argumento é a escuridão. Como já disse e todos sabem, até hoje nenhum ser voltou de suas viagens, mas sempre seu principal slogan foi a escuridão. Para que eu possa ver as estrelas será imprescindível que você me presentei com a noite e necessariamente com a escuridão. Ora, sendo a escuridão um presente que permite a manifestação das estrelas, eu opto – como já disse no “Por que Deus criou as estrelas?” por ver o brilho do astro e não a escuridão que o rodeia.
            Confiante de sua compreensão de meu desejo, despeço-me sem esperança de tão cedo vê-la, mas com o constante sonho de que me presentei com este desejo no dia único de nosso encontro, pois – como dizia Vinicius de Morais de você: “chega impressentida/ nunca inesperada/ você que é na vida/ a grande esperada!”.


Jackson de Sousa Braga
24 de agosto de 2014
Nas estradas de um estrageiro

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Nada como ser mineiro!




“Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer,/ é fingir que não sabe aquilo que sabe, / é falar pouco e escutar muito, é passar por bobo e ser inteligente, /é vender queijos e possuir bancos.”
(Carlos Drummond de Andrade)

            Perdoem-me os filhos de outro estado, mas tenho que assumir que não existe nada melhor do que ser mineiro. Sou filho do estado das Minas de ouro e mineiro de ferro, mas que também é formado pelas longas e Gerais planícies que caminham para o Nordeste. Sou filho do estado que tem em seu formato o rosto humano de seu povo, que é batalhador e sonhador. Tenho a alegria de ter como conterrâneos os sonhadores e trabalhadores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
“Minha terrinha” é marcada pela hospitalidade do Café com Pão-de-queijo e da suntuosidade dos monumentos históricos. Sou filho do estado da Religiosidade amorosa e tradicional e também da inteligência magnânima dos filósofos, dos grandes líderes e inventores, dos eruditos oradores e dos grandes poetas. Em minha “tirrinha”, vejo o encanto do pôr-do-sol sendo agraciado misticamente pelas lindas paisagens e no brilho do luar consigo ouvir o doce cantar das violas e violões em cantigas tão antigas e tão novas de meu amado povo.
E por falar em meus conterrâneos, tenho que ressaltar minha alegria de ter seu sangue e sua história. Ser mineiro é ter na vida a força do minério de ferro, abundante em nosso solo, bem como o cintilante esplendor do ouro de nossas Minas. Mineiro é forte, porque não teme lutar pelos sonhos de uma humanidade mais humana e por ter a fé de que a fraternidade acolhedora é nossa maior liberdade. Mineiro também é brilhante, porque faz de nosso mundo um lugar melhor, oferecendo até mesmo asas ao homem que ainda não havia aprendido a voar.
Não posso me esquecer de contar que recebi a graça de falar um dos idiomas mais lindos desse meu Brasil: O Mineirês. No querido “Uai”, nós, mineiros, conseguimos mostrar a sociedade que nossa natureza filosófica é um sonho constante de querer entender o mundo e os outros; No famosíssimo “trem”, nossa linguagem mineirês consegue expressar-se em um signo o infinito de possibilidade e de objetos; Quanto ao lindo “Sô”, só posso dizer que nós somos os únicos a ter uma palavra como ponto final ou como o diminutivo do pronome de tratamento: Senhor; Desculpem-me por não continuar elencando todo o dicionário Mineirês (“Noss, Cruz-credo, retrato, Pelejanu, éMess...”), mas essa empreitada é muito grande para tão pouco tempo.
E por falar nisso, não querendo terminar nossa prosa, mas já parando por aqui– pois o entardecer do papel não é capaz de conter a minha alegria e os inumeráveis  dons de Minas Gerais – quero dizer que ser mineiro é um privilégio não só dos que nascem nessas redondezas, mas de todos que aqui vem, porque somos marcados principalmente pela acolhida de nossa hospitalidade e pela simplicidade em nossa história. E sabe por quê?


POR QUE SER MINEIRO É MUITO BÃO, UAI! É UM TREM BÃO DEMAIS DA CONTA, SÔ!”



JACKSON DE SOUSA BRAGA
Mineiro
Minas Gerais, 16 de julho de 2014
Dia de Minas Gerais

sábado, 3 de maio de 2014

O Frio inquietante



Esfriou-se a doce palavra patente
Esfriou-se o calor da conversa virtual
Esfriou-se o encanto do olhar “caliente”
Esfriou-se o segredo do enigma astral.

Congelaram-se os gozos do solipsismo
Congelaram-se os dias do mesmismo
Congelaram-se os cobertores do materialismo
Congelaram-se  também as noites do intelectualismo.

Nevaram dores nas alegrias prontas
Nevaram loucuras onde lhes proponho
Nevaram vergonhas nas soberbas tontas
Nevaram pesadelos sem gosto de sonho.

Sou gelo sem o sabor das sensações
Sou o granizo dos santos corações
Sou a neve sem o contraste dos algodões.
Sou, finalmente, o frio que apaga as emoções.




JACKSON DE SOUSA BRAGA
Aquecido, 3 de maio de 2014, 22h10min.

terça-feira, 11 de março de 2014

Libertem-me do sonho dogmático!

Será destino do homem moderno ser neurótico, ter medo da vida?
(Alexander Lowen)


Hoje é o dia mais importante da existência, porque eu acordei num desconhecido que se fez histórico. Fui obrigado a não mais viver do doce prazer que o meu inconsciente me proporcionava num sonho desconhecido. Tive a responsabilidade de descobri que são meus pés quem primeiro descobrem o mundo ao sentir que não estou mais suspenso e sim em solo firme. A navegação acabou, o por ou nascer do sol já não serão mais refletidos pelas águas salinas... só vou ter as estrelas nas poucas noites que não mais dormir.
            Chega de dormir! Já não suporto mais o sonho do sucesso que envenena o riso do fracasso. O medo da vida já não é mais uma doença, mas antes uma constante familiaridade do dia-a-dia. Cansei-me dos viventes que amam a felicidade dos vencedores, mas desconhecem o gozo dos perdedores. Causou-me náuseas as esperanças de dias melhores que não sabem chegar sem dinheiro, luxo e poder. Maldito seja o sonho do poder desenfreado que fez de nós criadores da ilusão e negadores da tragicidade da existência.
            É hora de esquecermos os relógios e apegarmo-nos ao tempo! Já não são necessárias salas de esperas, pois a esperança chegou, ficou e – depois de saciada – partiu para construir seu próprio caminho que não aceita rastros. Chegou o grande dia, vamos todos a construir caminhos, porque já rastejamos demais em estradas que queriam fazer-nos voar, mas só nos ensinaram a andar. O que sonhou em voar já não vive, pois seus sonhos mataram; já o andarilho conheceu a existência – e sem matar, acabou morrendo a sonhar.
            Sonhos, sonhos, sonhos... já me cansei de tê-los a saciar meus enigmas. Se não quiserem tornar-se realidade, podem deixar-me, porque sei que os gostos do fracasso podem ser adoçados com a ironia, a comicidade e o riso. Só tenho medo de uma coisa e já lhes digo: De que este despertar não seja nada mais do que um sonho que sonha estar sonhando...



JACKSON DE SOUSA BRAGA
No sono dogmático
 11 de março de 2014, 16h04min.