"Disse Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá." (Jo 11, 25)
Perdoem-me
os enlutados que amam o silêncio, mas minhas palavras não gostam de ficar
escondidas em meu íntimo e clamam pelo encontro do papel. Sou feliz pela vida
dos que amam e pela alegria de seu viver, mas a dor da morte do outro nos faz
refletir sobre esse grande mistério da vida e da morte e sua relação. Seria uma
grande pretensão de minha parte falar nestas poucas palavras da morte e da
vida, pois ambas são maiores do que minha capacidade reflexiva, contudo escolho
dois verbos que fazem parte da vida e da morte, já lhes digo: O Nascer e o
Enlutar-se...
Quando
nascemos, vivenciamos a experiência da perda do amado. Antes estávamos na
sacralidade da proteção uterina, com todos os seus confortos e proteções.
Perdemos o conforto do carinho e do calor que recebíamos naquele pequeno trono
acolhedor. Não é em vão que ao nascermos já sabemos apenas chorar e normalmente
esta é nossa primeira reação e é dela que nos valeremos todas as vezes que
experienciarmos a dor da saudade. Sempre procuramos o outro amado com as lágrimas
na percepção de nossa pequenez e na tristeza do sentimento de solidão.
Resumindo: são as lágrimas nosso primeiro refúgio...
Analogamente
ao nascer, também na experiência do luto vivemos a perda de um(a) amado(a).
Antes encontrávamos em sua presença nossas proteções afetivas, agora sentimos
sua perda física e concerta. Surpreende-me a nossa incapacidade de esperar que
o(a) amado(a) esteja fraco(a), doente e
que morra... Além disso, assim como no nascimento, nossa reação na experiência
da perda é a das lágrimas, que são o sangue da alma nas palavras agostinianas.
Nas lágrimas encontramos a força de nos revoltar com a perda e de pedirmos que o(a)
amado(a) volte e não deixe que a saudade nos tome. Resumindo: são as lágrimas
nosso primeiro refúgio...
Porém,
aqui existe um apêndice... Após o nascimento e a experiência das lágrimas, a
criança é convidada a aprender a única coisa que poderá compensá-las, isto é, o
sorrir. Nascemos dotados com ofício de chorar, mas a aprendizagem da arte de
sorrir expressa nossa capacidade de encontrar na perda a nova força para
prosseguir no crescimento. Continuando nossa analogia, na experiência de luto,
temos que prolongar o amor aprendido do(a) amado(a). Nossa experiência aqui é
de ressurreição, de voltar a viver o bem que o amor do perdido(a) nos fez...
Concluindo,
poderia dizer que a experiência de morte é análoga a de nascer, com todas as
suas lágrimas e sofrimento de saudade e dor. Porém, depende de nós, fazermos
com que os sorrisos infantis sejam também análogos ao fazer ressurgir do(a)
amado(a), com toda a ressignificação de nosso futuro de lembranças amorosas.
JACKSON DE SOUSA BRAGA
No luto de tia Dora, 20 de junho de 2013.
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