segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Lendo as estrelas...




No doce silêncio da noite, encostado na janela do mundo e rumo à visão da morte, constatei a pobreza da linguagem: Pobres são as palavras! Corria perdidamente por caminhos conhecidos, mas num momento escondido da vida. Sim, ouvi o que meu coração temia: a fraqueza do dizer. Não sei por que estou a testemunhar isto aqui, mas sinto-me obrigado a suportar essa entrega de palavras ao mundo do barulho – ou melhor, da conexão.
            Não se engane com minhas palavras, pois elas também se fizeram fracas neste momento. Constatei que não sou compreendido, que talvez ninguém seja. Constatei, vendo as estrelas, que a linguagem é só um modo falido, que encontramos para sair da solidão humana. Ouvi o palpitar de meu coração apaixonado e vi que a linguagem era pobre o bastante para não saber se expressar. Disse ao silêncio sobre minhas dores e as palavras morreram no vento que as levou. Cheguei a perder a esperança na confiança de ser compreendido.
            Chorei amargamente diante das estrelas e chamei-as para junto de mim, porém elas me olharam e deixaram apenas seus sorrisos brilharem. Neste momento, experimentei a angústia de ser aquele que fala, mas que não sabe ser compreendido. Vivi o tédio de falar ao mundo o que penso e não ser jamais envolvido pelo outro. Quão triste foi constatar, em minha solidão, que a linguagem é uma noiva cadáver.
            Sim, ela é uma noiva, pois estou condenado a suportá-la em minha existência e amá-la como se fosse meu único remédio para o diálogo. Entretanto, ela é cadáver, pois morta vive a apodrecer o silêncio e viva consegue morrer nos ventos dos sentidos, sentimentos e razão... Por que ouso utilizá-la ainda? Por que a linguagem não é tudo, mas o tudo só se expressa na linguagem?
            Que dor é essa que aborrece o meu ser? Por que estou a lhe dizer isto? Por que sou compreendido por seu entendimento, mas desconhecido pelo seu ser? Pobre de mim, por falar aos ventos o que o silêncio já não suporta! Pobre de mim, por ser um ser de linguagem, sem nem mesmo acreditar na sua compreensão. Calo ou não me calo? Se me calo, estou a dizer o silêncio, que não pode ser dito; se não me calar, continuo a me comprometer com a linguagem fraca, pobre e sem vida.
            Resta-me o paradoxo, de continuar a dizer o que não é compreendido ou silenciar para continuar a não ser compreendido.


Jackson de Sousa Braga
Na estrada com as estrelas, 9 e 10 de setembro de 2012

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