sábado, 21 de julho de 2012

"País das Lágrimas"


Hoje, eu estava lendo o livro do Pequeno Príncipe e me deparei com o “país das lágrimas”. Somos, enquanto animais humanos, os senhores das lágrimas e amante das mesmas. Na maioria de nossas experiências (físicas, psíquicas e espirituais) trazemos as lágrimas como uma reação. Além disso, somos seres que vem a chorar (trazer lágrimas) para nascermos da melhor forma possível. Somos amantes das lágrimas e também fugitivos das mesmas.
                Somos amantes das lágrimas, porque acreditamos que elas são nossas válvulas de escape. Acreditamos no seu poder de limpar nossas almas das dores da existência. Acreditamos que as lágrimas carregam no olhar a contrição do erro e a vitória do justo. Amamos as lágrimas pela sua capacidade em expressar a nossa confiança na misericórdia do (O)outro. Encontramos nelas a explosão da vitória trabalhosa e a confiança do suor bem empenhado. Enfim, somos amantes das lágrimas, pois sabemos que elas são a melhor forma de tornar físico o que não pode ser físico.
                Porém, somos também fugitivos! Fugimos de sua capacidade de manter viva a dor e a angústia de dias sombrios. Santo Agostinho tinha o costume de dizer que “as lágrimas são o sangue da alma” e acredito que o dizia para nos lembrar da capacidade que elas têm de nos retirar a vivacidade de nosso ânimo. É através delas também que expressamos a ira de corações escravizados pelo ódio, pelos ciúmes e pela raiva. Enfim, somos fugitivos das lágrimas, porque tememos o seu poder de tornar expresso o mal nas linhas de nossa face.
                Minhas palavras agora querem se voltar para o sussurro que os gemidos humanos carregam junto às lágrimas. Ouça-me, ó lágrimas, que escutarem ou lerem essas palavras: Sou um suspeito! Sou suspeito de soluçar esperanças mortas, prazeres frios, paixões cheias de cobiça... também sou suspeito de chorar as conquistas laboriosas, o nascer do amado, o amor difundido... Contudo, não sei bem o motivo de cada lágrima. Porém, não deixo de acreditar que um dia vou desvendar seus mistérios e encontrar, como um pequeno príncipe, o revelar-se do oculto de sua fonte: “É tão misterioso o país das lágrimas”.
                Diante de minhas próprias palavras – ousadas talvez pela minha culpabilidade suspeita – só me resta o doce e amargo silêncio da solidão. Tenho a certeza de que as gotas de sangue jorrarão do coração de minha alma, porém a confiança nos doces sentimentos e nas alegrias  esperançosas alimentarão minha confiança na existência.



Jackson de Sousa Braga
Na solidão silenciosa,  21 de julho de 2012 (22h13min)

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