Cara
Morte...
“Filosofar
é a aprender a morrer” (Montaigne)
Minhas saudações, sem espera de
resposta antecipada, pois temo o dia em que tiver de recebê-las. Hoje gostaria
de fazer um pedido, mesmo sabendo de que sua realização não venha a ser obtida.
Sei que seus mistérios foram feitos para o silêncio da incompreensão linguística,
contudo minhas palavras foram feitas para ser compreendidas – ou pelo menos
percebidas – e, por isso, escrevo e digo-lhe este desejo, pois quero ser livre
para cantar os segredos de meu coração e de minha razão.
Meu desejo foi elaborado ao longo
dos bilhões de anos da existência deste universo. Foi forjado em meio à
expansão do cosmos, do qual faço parte. Talvez, a vontade seja a única que
realmente tem coragem de encará-la. Mesmo sabendo do fracasso dos voluntários,
ela sabe que deve manter-se corajosamente a cantar o seu maior sonho: a Vida.
Sabendo disso, quero dizer-lhe este desejo: Que
meus olhos sejam definitivamente apagados por você com a imagem das estrelas e
não de seu rosto desconhecido.
Sei que a curiosidade filosófica de
minha existência deseja conhecer seu rosto, porém o encanto das estrelas já
conseguiu fazer com que esta curiosidade seja inferior. Repito novamente que
meu desejo pode não ser realizado, mas mesmo assim quero argumentar as razões
que levam o meu desejo a ser autêntico e real para cumprir-se:
O primeiro argumento é a paixão
pelas estrelas que sonda o meu coração. Sei de que suas chegadas são marcadas
constantemente pelos apelos dos apaixonados que pedem mais tempo para viver com
seus amantes e mesmo assim sua realização é acionada e cumprida. Porém, peço
que leve em consideração que não desejo descumprir sua missão e sim cumpri-las,
só que contemplando e tendo a última e única visão de minhas amadas, para que
eu possa viver a eternidade cosmológica compreendendo as razões que minha
própria razão desconhece.
O segundo argumento é a audição do silêncio
estrelar. As estrelas sempre cantaram em meus ouvidos os segredos do cosmos –
sei que não os compreendi todos, mas sempre amei ouvi-las. Sei também que meu
desejo é apenas a utilização do sentido da visão e não da audição, todavia a
visão final das estrelas me dará a graça de continuar a relembrar e compreender
as infinitas e encantadoras melodias que os lindos astros cantaram em meus
ouvidos.
O terceiro e último argumento é a
escuridão. Como já disse e todos sabem, até hoje nenhum ser voltou de suas
viagens, mas sempre seu principal slogan
foi a escuridão. Para que eu possa ver as estrelas será imprescindível que você
me presentei com a noite e necessariamente com a escuridão. Ora, sendo a
escuridão um presente que permite a manifestação das estrelas, eu opto – como já
disse no “Por que Deus criou as estrelas?”
por ver o brilho do astro e não a
escuridão que o rodeia.
Confiante de sua compreensão de meu
desejo, despeço-me sem esperança de tão cedo vê-la, mas com o constante sonho
de que me presentei com este desejo no dia único de nosso encontro, pois – como
dizia Vinicius de Morais de você: “chega impressentida/
nunca inesperada/ você que é na vida/
a grande esperada!”.
Jackson
de Sousa Braga
24
de agosto de 2014
Nas
estradas de um estrageiro
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