Será destino do
homem moderno ser neurótico, ter medo da vida?
(Alexander
Lowen)
Hoje é o dia mais
importante da existência, porque eu acordei num desconhecido que se fez
histórico. Fui obrigado a não mais viver do doce prazer que o meu inconsciente
me proporcionava num sonho desconhecido. Tive a responsabilidade de descobri
que são meus pés quem primeiro descobrem o mundo ao sentir que não estou mais suspenso
e sim em solo firme. A navegação acabou, o por ou nascer do sol já não serão
mais refletidos pelas águas salinas... só vou ter as estrelas nas poucas noites
que não mais dormir.
Chega de dormir! Já não suporto mais o sonho do sucesso
que envenena o riso do fracasso. O medo da vida já não é mais uma doença, mas
antes uma constante familiaridade do dia-a-dia. Cansei-me dos viventes que amam
a felicidade dos vencedores, mas desconhecem o gozo dos perdedores. Causou-me náuseas
as esperanças de dias melhores que não sabem chegar sem dinheiro, luxo e poder.
Maldito seja o sonho do poder desenfreado que fez de nós criadores da ilusão e
negadores da tragicidade da existência.
É hora de esquecermos os relógios e apegarmo-nos ao tempo!
Já não são necessárias salas de esperas, pois a esperança chegou, ficou e – depois
de saciada – partiu para construir seu próprio caminho que não aceita rastros.
Chegou o grande dia, vamos todos a construir caminhos, porque já rastejamos
demais em estradas que queriam fazer-nos voar, mas só nos ensinaram a andar. O
que sonhou em voar já não vive, pois seus sonhos mataram; já o andarilho
conheceu a existência – e sem matar, acabou morrendo a sonhar.
Sonhos, sonhos, sonhos... já me cansei de tê-los a saciar
meus enigmas. Se não quiserem tornar-se realidade, podem deixar-me, porque sei
que os gostos do fracasso podem ser adoçados com a ironia, a comicidade e o riso.
Só tenho medo de uma coisa e já lhes digo: De que este despertar não seja nada
mais do que um sonho que sonha estar sonhando...
JACKSON DE SOUSA BRAGA
No sono dogmático
11 de março
de 2014, 16h04min.